Não sei se ainda faz algum sentido
Te lembra que o dia já começa a clarear
Devagar as luzes da cidade vão morrendo
E você aí parada olhando um poste bêbado apagar
Eu chamo o cara do estacionamento
Você desata a rir da pinta neoliberal de um playboy
Te peço a gorjeta, você me passa a carteira inteira
Insinuando discretamente que bebeu demais
E as ruas vazias se despedem da noite
Você insiste em parar pra comer um hot-dog
E as ruas vazias se despedem da noite
Você insinuando discretamente estar tão só
Mas não se leva a mal
Que a solidão paira na cidade
Pertence à cidade
Não, não se leva a mal
De vez ou outra se sentir assim, se sentir assim
Imediatamente após o seu pedido
Entro no posto 24 horas pra reabastecer
Te olho enviesado pelas prateleiras, indeciso
Nada é realmente aquilo que a gente quer viver
Então eu digo, meu amor, vamos para a casa
Esquece esse vazio que essas coisas todas dão
Vamos embora pra bem longe em nosso carrinho
Só nós dois, nossa alegria e nossa escuridão
Do disco "Noite" de 1997 composta por Lobão
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Citação - Sylvia Plath
"O que mais me apavora, penso, é a morte da imaginação. Quando o céu lá fora é só cor-de-rosa e os telhados, negros: aquela mente fotográfica que paradoxalmente nos revela a verdade, mas a verdade do mundo, que nada vale. O que eu desejo é aquele espírito sintetizador, aquela força 'que da forma' e que faz rebrotar prolificamente criando suas próprias palavras com mais inventividade do que Deus. Se eu me sento aqui e não faço nada, o mundo prossegue batendo como um tambor flácido, sem significado".
Cambrige Notes, 1956
Cambrige Notes, 1956
Espelho - Sylvia Plath
Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos. Tudo o que vejo engulo imediatamente Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão. Não sou cruel, apenas verdadeiro - O olho de um pequeno deus, de quatro cantos. Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente. Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo, Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila. Rostos e escuridão nos separam toda hora. Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim, Buscando na minha superfície o que ela realmente é. Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua. Vejo suas costas, e as reflito fielmente. Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos. Sou importante para ela. Ela vem e vai. A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão. Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível.
Link: Mirror
Olmo - Sylvia Plath
Sei o que há no fundo, ela diz. Conheço com minha própria raiz.
Era o que você temia.
Era o que você temia.
Eu não: já estive lá.
.
É o mar que você ouve em mim,
Suas frustrações?
Ou a voz do vazio, essa é a sua loucura?
.
O amor é uma sombra.
Como você chora e mente por ele.
Ouça: estes são seus cascos; fugiram, como cavalos.
.
Vou galopar a noite inteira
Até que sua cabeça vire pedra, seu travesseiro vire turfa,
Ecoando, ecoando.
.
Ou devo te trazer o borbulhar das poções?
Isso agora é chuva, esse silêncio imenso.
E este é seu fruto: branco-metálico, como arsênico.
.
Sofri a atrocidade dos poentes.
Queimada até as raízes
Meus filamentos ardem e ficam, emaranhado de arames.
.
Meus estilhaços se espalham em centelhas.
Um vento violento assim
Não suporta obstáculos: preciso gritar.
.
A lua, também, não tem pena de mim: me engole,
Cruel e estérilSeus raios me arruínam.
Ou quem sabe a peguei.
.
Eu a deixo fugir, fugir
Magra e minguante, como depois de uma cirurgia radical.
Seus pesadelos me enfeitam e me possuem.
.
Dentro de mim mora um grito.
De noite ele sai com suas garras, à caça
De algo para amar.
.
Sou torturada por essa coisa negra
Que dorme em mim;
O dia inteiro sinto seu roçar leve e macio, sua maldade.
.
Nuvens passam e se dissipam.
São estas as faces do amor, pálidas, irrecuperáveis?
Foi pra isso que atormentei meu coração?
.
Não consigo compreender além.
E o que é isso agora, essa cara
Assassina com seus galhos sufocantes? -
.
O beijo traiçoeiro da serpente.
Petrifica o desejo. Esses são os erros, solitários e lentos,
Que matam, matam, matam.
.
É o mar que você ouve em mim,
Suas frustrações?
Ou a voz do vazio, essa é a sua loucura?
.
O amor é uma sombra.
Como você chora e mente por ele.
Ouça: estes são seus cascos; fugiram, como cavalos.
.
Vou galopar a noite inteira
Até que sua cabeça vire pedra, seu travesseiro vire turfa,
Ecoando, ecoando.
.
Ou devo te trazer o borbulhar das poções?
Isso agora é chuva, esse silêncio imenso.
E este é seu fruto: branco-metálico, como arsênico.
.
Sofri a atrocidade dos poentes.
Queimada até as raízes
Meus filamentos ardem e ficam, emaranhado de arames.
.
Meus estilhaços se espalham em centelhas.
Um vento violento assim
Não suporta obstáculos: preciso gritar.
.
A lua, também, não tem pena de mim: me engole,
Cruel e estérilSeus raios me arruínam.
Ou quem sabe a peguei.
.
Eu a deixo fugir, fugir
Magra e minguante, como depois de uma cirurgia radical.
Seus pesadelos me enfeitam e me possuem.
.
Dentro de mim mora um grito.
De noite ele sai com suas garras, à caça
De algo para amar.
.
Sou torturada por essa coisa negra
Que dorme em mim;
O dia inteiro sinto seu roçar leve e macio, sua maldade.
.
Nuvens passam e se dissipam.
São estas as faces do amor, pálidas, irrecuperáveis?
Foi pra isso que atormentei meu coração?
.
Não consigo compreender além.
E o que é isso agora, essa cara
Assassina com seus galhos sufocantes? -
.
O beijo traiçoeiro da serpente.
Petrifica o desejo. Esses são os erros, solitários e lentos,
Que matam, matam, matam.
Link para o original: Elm - Sylvia Plath
Poema do Livro Sylvia Plath Poemas - tradução Rodrigo Garcia Lopes e Mauricio Arruda Mendonça
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Faísca - Charles Bukowski
a fábrica longe da Av. Santa Fé era
melhor.
empacotávamos suporte de luminárias
pesados em caixas longas
e depois jogávamos as caixas em pilhas
de seis.
aí os carregadores
vinham
esvaziar sua mesa e
você começava as seis seguintes.
jornada de dez horas
quatro no sábado
pagamento pelo sindicato
bom demais para trabalho não especializado
e se você não chegava lá
com músculos
logo, logo ia arranjá-los
a maioria de nós em
camisetas brancas e jeans
cigarro no bico
cerveja furtiva
a gerência olhando
pro outro lado
poucos brancos
os brancos não demoravam
trabalhadores preguiçosos
na maioria mexicanos e
pretos
frios e rancorosos
brilhava uma faca
ou alguém
era ferido
a gerência olhando
pro outro lado
os raros brancos que ficavam
eram loucos
trabalhava-se
e as jovens mexicanas
nos mantinham
acesos e esperançosos
seus olhos piscando
mensagens
de lá da
linha de montagem.
eu era um dos
brancos loucos
que duraram
eu era um bom trabalhador
só pelo ritmo da coisa
pelo diabo da coisa
e depois de dez horas
de trabalho duro
depois de trocar insultos
vivendo entre atritos
com os que não suficientemente calmos
para se conformar
saíamos
ainda dispostos
subíamos em nosso velhos
carros para
voltar para casa
beber metade da noite
brigar com nossa mulheres
para recomeçar no dia seguinte
a embalar os suportes
sabendo que éramos
uns babacas
fazendo os ricos mais ricos
enfiávamos
nossa camiseta branca
e o jeans
e deslizámos
entre jovens mexicanas
éramos simples e prefeitos
para o que fazíamos
ressaca
podíamos
fazer bem pra burro
nosso trabalho
mas isso
não nos tocou
nunca
entre aquelas paredes despelando
o barulho das brocas
e serras
as faíscas
éramos uma turma boa
naquele balé brutal
éramos maravilhosos
dávamos a eles
muito mais do que pediam
e ainda assim
a eles não dávamos
nada.
Fonte: Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski, tradução Jorge Wanderley
melhor.
empacotávamos suporte de luminárias
pesados em caixas longas
e depois jogávamos as caixas em pilhas
de seis.
aí os carregadores
vinham
esvaziar sua mesa e
você começava as seis seguintes.
jornada de dez horas
quatro no sábado
pagamento pelo sindicato
bom demais para trabalho não especializado
e se você não chegava lá
com músculos
logo, logo ia arranjá-los
a maioria de nós em
camisetas brancas e jeans
cigarro no bico
cerveja furtiva
a gerência olhando
pro outro lado
poucos brancos
os brancos não demoravam
trabalhadores preguiçosos
na maioria mexicanos e
pretos
frios e rancorosos
brilhava uma faca
ou alguém
era ferido
a gerência olhando
pro outro lado
os raros brancos que ficavam
eram loucos
trabalhava-se
e as jovens mexicanas
nos mantinham
acesos e esperançosos
seus olhos piscando
mensagens
de lá da
linha de montagem.
eu era um dos
brancos loucos
que duraram
eu era um bom trabalhador
só pelo ritmo da coisa
pelo diabo da coisa
e depois de dez horas
de trabalho duro
depois de trocar insultos
vivendo entre atritos
com os que não suficientemente calmos
para se conformar
saíamos
ainda dispostos
subíamos em nosso velhos
carros para
voltar para casa
beber metade da noite
brigar com nossa mulheres
para recomeçar no dia seguinte
a embalar os suportes
sabendo que éramos
uns babacas
fazendo os ricos mais ricos
enfiávamos
nossa camiseta branca
e o jeans
e deslizámos
entre jovens mexicanas
éramos simples e prefeitos
para o que fazíamos
ressaca
podíamos
fazer bem pra burro
nosso trabalho
mas isso
não nos tocou
nunca
entre aquelas paredes despelando
o barulho das brocas
e serras
as faíscas
éramos uma turma boa
naquele balé brutal
éramos maravilhosos
dávamos a eles
muito mais do que pediam
e ainda assim
a eles não dávamos
nada.
Fonte: Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski, tradução Jorge Wanderley
domingo, 11 de setembro de 2011
Paranóia em Astrakan - Roberto Piva
Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
onde anjos surdos percorrem as madrugas e tingindo seus olhos com
lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões aos pequenos paquidermes
que saem escondidos das tocas
onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
estéreis e incendeiam internatos
onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
a descarga sobre o mundo
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
branco
onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorroidas das
beatas
onde as cartas reclamam drinks de emergência para lindos tornozelos
arranhados
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da
imaginação
onde anjos surdos percorrem as madrugas e tingindo seus olhos com
lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões aos pequenos paquidermes
que saem escondidos das tocas
onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
estéreis e incendeiam internatos
onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
a descarga sobre o mundo
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
branco
onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorroidas das
beatas
onde as cartas reclamam drinks de emergência para lindos tornozelos
arranhados
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da
imaginação
Poesias Carmina Burana - Goliardo
I-
"Ó FORTUNA"
Ó
Fortuna,
tal
a lua,
uma
forma variável!
Sempre
enchendo
ou
encolhendo:
ó
que vida execrável!
Pouco
duras,
quando
curas
de
nossa mente as mazelas
a
pobreza,
a
riqueza, tu derretes ou congelas.
Bruta
sorte,
és
de morte:
tua
roda é volúvel,
benfazeja,
malfazeja,
toda
sorte é dissolúvel.
Disfarçada
de
boa fada,
minha
ruína sempre queres;
simulando
estar
brincando,
minhas
costas nuas feres.
Gozar
saúde,
mostrar
virtude:
isto
escapa minha sina;
opulento
ou
pulguento
o
azar me arruína.
Chegou
a hora,
convém
agora,
o
alaúde dedilhar;
a
pouca sorte
do
homem forte
devemos
todos lamentar." (CB no. 17)
II-
"UMA JOVEM PASTORA"
Uma
jovem pastora,
logo
ao sol nascer,
levava
seu rebanho
e
lã para tecer.
Seu
rebanho inclui
carneiro
e jumentinha
cabrito
e cabrita
bezerro
e bezerrinha.
Ela
viu na relva,
sentado
um estudante:
"Senhor,
que faz aqui ?
Brinquemos
um instante!" (CB no. 90)
III-
"AI DE MIM, QUE MEDO"
Ai
de mim, que medo,
furaram
meu segredo:
amava
loucamente.
Revela
o ocorrido
meu
ventre entumescido;
o
parto é iminente.
Mamãe
me fustiga,
papai
me castiga,
só
fazem me xingar.
Fico
em casa trancada,
não
piso na calçada,
não
posso mais brincar.
Se
eu na rua andar,
todos
vão me olhar:
"Um
monstro a passar!"
Vêem
com mesquinhez
minha
gravidez
e
passam sem falar.
Cotovelos
se afrontam,
dedos
sujos me apontam
como
malfeitora.
Olhares
me incriminam,
à
fogueira me destinam,
a
grande pecadora.
É
o fim da picada:
ser
a moça mais falada
desta
freguesia!
Dores
sem fim padeço,
aflita,
desfaleço,
choro
de agonia.
E
tudo agravou-se,
meu
noivo exilou-se,
para
longe daqui.
Ante
a paterna vingança,
exilou-se
na França
tão
distante de mim.
Ele
estando ausente
receio
que não agüente
esta
dor sem fim. " (CB no. 126)
IV-"
SE UM RAPAZ E UMA DONZELA"
Se
um rapaz e uma donzela,
ficassem
juntos na mesma cela...
R.
Ó casal abençoado!
O amor tempera,
anima o noivado;
o tédio se oblitera.
Brincam
juntos num só gesto
de
bocas, pernas e o resto!
R.
Ó casal abençoado... (CB no. 183)
V-
"AH, SE EU PUDESSE COMPRAR"
Ah,
se eu pudesse comprar
o
mundo, do Reno até o mar.
Tudo
isto me pode faltar:
basta
a rainha da Inglaterra
em
meus braços se deitar." (CB no. 145)
VI-
'QUANDO NA TABERNA ESTAMOS"
Quando
na taberna estamos,
falar
da morte evitamos,
jogar,
isto nos conforta,
o
dado é que importa.
Quem
paga o pato na taberna ?
Qual
a lei que nos governa?
Tais
perguntas em tua cabeça
permita-me
que esclareça.
Se
não bebem, jogam dados,
ou
cometem outros pecados.
Vários
devem, ao jogar,
sua
roupa empenhar:
ficarão
bem trajados
ou
com trapos camuflados,
ninguém
aqui teme a morte,
todos,
bebendo, tentam a sorte.
Brindam
logo a quem paga
com
o vinho que se traga,
duas
vezes os prisioneiros,
três
vezes nossos herdeiros,
quatro
vezes os batizados,
cinco
vezes nossos finados,
seis,
todas as mães solteiras,
sete,
os guardas das fronteiras.
Oito,
os confrades meliantes,
nove,
os monges caminhantes,
dez,
os nossos navegantes,
onze
vezes os discordantes,
doze
vezes os flagelantes,
treze
vezes os viandantes.
Por
fim, ao Papa, e ao Rei
brindam
nossos fora-da-lei.
Bebe
a dona, bebe o senhor,
bebe
o cabo e o monsenhor,
bebe
o dono, bebe a dama,
bebe
o servo, bebe a ama,
o
apressado e o tardo,
bebe
o branco, bebe o pardo,
o
burguês com o vago
o
camponês com o mago.
Bebe
o pobre, bebe o doente,
o
marginal, o indigente,
o
moço e o veterano,
bebe
o abade com o decano,
bebe
o irmão, bebe a irmã,
bebe
o velho, bebe a anciã,
bebe
o nobre, bebe o vil
bebem
cem e bebem mil.
Com
seis ducados não pagamos
todo
vinho que tragamos
bebendo
todos à porfia.
Mas
ao beber na alegria,
falsos
irmãos de nós judiam
sempre
nos vilipendiam.
Quem
nos inveja, seja maldito,
no
livro dos justo não fique inscrito." (CB no. 196)
Alma - Charles Bukowski
oh! como eles se preocupam com a minha
alma!
recebo cartas
o telefone toca...
"você vai ficar bem?"
perguntam.
"ficarei bem", eu lhes digo.
"ja vi tantos se afundarem na sarjeta",
eles me dizem.
"não se preocupem comigo", digo
ainda assim me deixam nervoso.
entro e tomo uma chuveirada
saio e espremo uma espinha do
nariz.
então vou até a cozinha e preparo
um sanduíche de salame e presunto
eu costumava viver de doces baratos.
agora tenho mostarda alemã importada
para passar no sanduíche, devo estar em perigo
por causa disso.
o telefone segue tocando e as cartas seguem
chegando.
se você tiver dentro de um armario na companhia de ratos
e come pão velho
eles gostam de você.
você passa a ser um
gênio.
ou se está num manicômio ou
detido na delegacia
eles o chamam de gênio
ou se você está bêbado e não para de gritar
obcenidades
vomitando as tripas no
chão
você é um gênio.
mas experimente pagar o aluguel um mês
adiantado
vestir um novo par de meias
ir ao dentista
fazer amor com uma garota limpa e saudável
em vez de pegar uma puta
e você vendeu sua
alma.
não estou minimadamente interessado em perguntar como
vão suas almas.
suponho que era o que eu deveria
fazer.
alma!
recebo cartas
o telefone toca...
"você vai ficar bem?"
perguntam.
"ficarei bem", eu lhes digo.
"ja vi tantos se afundarem na sarjeta",
eles me dizem.
"não se preocupem comigo", digo
ainda assim me deixam nervoso.
entro e tomo uma chuveirada
saio e espremo uma espinha do
nariz.
então vou até a cozinha e preparo
um sanduíche de salame e presunto
eu costumava viver de doces baratos.
agora tenho mostarda alemã importada
para passar no sanduíche, devo estar em perigo
por causa disso.
o telefone segue tocando e as cartas seguem
chegando.
se você tiver dentro de um armario na companhia de ratos
e come pão velho
eles gostam de você.
você passa a ser um
gênio.
ou se está num manicômio ou
detido na delegacia
eles o chamam de gênio
ou se você está bêbado e não para de gritar
obcenidades
vomitando as tripas no
chão
você é um gênio.
mas experimente pagar o aluguel um mês
adiantado
vestir um novo par de meias
ir ao dentista
fazer amor com uma garota limpa e saudável
em vez de pegar uma puta
e você vendeu sua
alma.
não estou minimadamente interessado em perguntar como
vão suas almas.
suponho que era o que eu deveria
fazer.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Assim é a América - Gregory Corso
Assim é a América e eu me divirto
música a valer e os lunáticos
com as bocas fechadas sem cantar
me apaixono por uma mulher
e detesto todas as outras
para um jogo feminino de cinquenta
para cada dez
nos outros cinquenta
está o melhor
A América é assim e há assim e há muito mais
diversão
e lunáticos
um bando dos que nãos sabem cantar
e um bando dos que cantam
mas ninguém se interessa
como eu
Que cantei na Califórnia
toda minha cultura ocidental para um mexicano escutar
mas ele apagado não me ouvia
morreu com um sorriso nos lábios
o trapaceiro com três dentes de ouro
um bocado de chá
a mão cheia de payote
e uma esposa de quatorze anos
música a valer e os lunáticos
com as bocas fechadas sem cantar
me apaixono por uma mulher
e detesto todas as outras
para um jogo feminino de cinquenta
para cada dez
nos outros cinquenta
está o melhor
A América é assim e há assim e há muito mais
diversão
e lunáticos
um bando dos que nãos sabem cantar
e um bando dos que cantam
mas ninguém se interessa
como eu
Que cantei na Califórnia
toda minha cultura ocidental para um mexicano escutar
mas ele apagado não me ouvia
morreu com um sorriso nos lábios
o trapaceiro com três dentes de ouro
um bocado de chá
a mão cheia de payote
e uma esposa de quatorze anos
O Crime - Gregory Corso
No animal ainda quente seu crime
foi gracejo da secreta ação amarga humana
suficiente para o riso da jovem
com o sangue se esvaindo surdamente
juntos comeram a rosa
e juntos enxugaram as línguas
ante as brasas e os recortes de pele
eles se amaram tanto
até os olhos caírem por dentro
e as faces se despregarem
domingo, 4 de setembro de 2011
Fuga sobre a Morte - Paul Celan
Leite negro da madrugada nós o bebemos de noite nós o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos de noite nós o bebemos bebemos
cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Um homem mora na casa bole com cobras escreve
escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete
escreve e se planta diante da casa e as estrelas faíscam ele assobia para os seus Mastins
assobia para os seus judeus manda cavar um túmulo na terra
ordena-nos agora toquem para dançar
Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos de manhã e ao meio-dia nós te bebemos de noite nós bebemos bebemos
Um homem mora na casa e bole com cobras escreve
escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete
Teu cabelo de cinzas Sulamita cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Ele brada cravem mais fundo na terra vocês aí cantem e toquem
agarra a arma na cinta brande-a seus olhos são azuis
cravem mais fundo as pás vocês aí continuem tocando para dançar
Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos de noite nós bebemos bebemos
um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita ele bole com cobras
Ele brada toquem a morte mais doce a morte é um dos mestres da Alemanha
ele brada toquem mais fundo os violinos vocês aí sobem como fumaça no ar
aí vocês têm um túmulo nas nuvens lá não se jaz apertado
Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos ao meio-dia a morte é um dos mestres da Alemanha
nós te bebemos de noite e de manhã nós bebemos bebemos
a morte é um dos mestres da Alemanha seu olho é azul
acerta-te com uma bala de chumbo acerta-te em cheio
um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
ele atiça seus mastins sobre nós e sonha a morte é um dos mestres da Alemanha
eu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita
O Último alento de Arnold - Gregory Corso
Arnold, acalentado por Deus,
escondido sob a varanda
relembrando o tempo em que fugiu, aprisionado em
Vermont,
abrindo um caminho na
neve. Arnold era de outro lugar,
onde não era tão frio; lá ele usava sapatos
camurça
e jogava tênis de mesa.
Arnold sabia o Corão.
E ele saia cantar:
O jovem Julien Sorel
Recitava bem o latim
E era inteligente assim
Como ele era um jasmim
Até que sua cabeça caiu.
Na atmosfera vazia
Arnold tinha um trinca de pombos, um pacote milho.
Pensava em Eleanor, em suas mãos;
Observava ela sentada quieta na escola
Ele tinha Carmine para atraí-la para uma atmosfera mais cálida;
Queria beijá-la, viver com ela para sempre;
Abrir-lhe a cabeça com propostas mirabolantes.
Quem é Arnold? Bem,
Quando o encontrei a primeira vez usava um gorro preto
coberto
de broches antigos. Estava com 13 anos.
E com medo. Mas sorria. Ele estava sempre
querendo te
acompanhar no caminho de casa, falar com tua mãe,
conversar com ela sobre o
Parque da rua Hester
sobre os vagabundos gélidos de lá;
sobre as velhas judias
gélidas sentadas,
com as mãos dobradas, tristes, virando o rosto
para longe do
antigo lar dos judeus.
Arnold cresceu conhecendo bem os agentes de turfe
e os
depenadores de frangos
E Arnold sabia cantar:
Agora morreu, aos meus 15 anos
Delano Roosevelt, com seu rosto sorridente
Tornou mais diabólico o Imperialista com dentadura de dólar,
O Ariano de bigodes,
O César queixudo –
Agora morreu, e eu chorei...
Porque esse homem uma vez eu odiei
sem razão nenhuma
só
ódio inocente
– meu gorro coberto com broches antigos.
Arnold levou um chute no saco
de uma garota italiana que
enlouqueceu
por causa de uma grande greve de mineiros
que forçou a Aliança Educacional
a fechar as portas.
Arnold, fraco e caído, roubou uns centavos de uma
biblioteca,
mas aproveitou para ler Paderewski.
Ele costumava andar pela Rua Sul
a refletir sobre os
diversos tipos de cola.
Era em cola de avião que ele pensava
quando caiu e morreu
sob a Ponte do Brooklyn.
Poemas do livro: Gasolyna
Tradução: Ciro Barroso
sábado, 3 de setembro de 2011
o jeito que isso é - Charles Bukowski
o inferno está lotado ainda
você sempre pensa que você está
sozinho.
e você nunca pode dizer
a ninguém que
você está no inferno
ou eles vão pensar
que você está
louco.
mas ser louco é
estar no inferno
e ser sensato
também.
aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre
isso
e nada mais
incomoda eles
depois
disso.
Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição,
ir para a cadeia,
bater seu carro
ou
mesmo
morrer.
quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão
indo? "
eles vão responder: "bem,
muito bem ... "
uma vez que você foi para o inferno
sozinho.
e você nunca pode dizer
a ninguém que
você está no inferno
ou eles vão pensar
que você está
louco.
mas ser louco é
estar no inferno
e ser sensato
também.
aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre
isso
e nada mais
incomoda eles
depois
disso.
Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição,
ir para a cadeia,
bater seu carro
ou
mesmo
morrer.
quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão
indo? "
eles vão responder: "bem,
muito bem ... "
uma vez que você foi para o inferno
e voltou
é o bastante, é a
mais silenciosa celebração
conhecida.
uma vez que você foi para o inferno
e voltou,
você não olha para trás
quando o chão
range.
o sol está no alto a
meia-noite
e coisas como
os olhos de ratos
ou um velho pneu
em um terreno baldio
pode torná-lo
feliz.
uma vez que você foi para o inferno
e voltou.
Link:Bukowski Poemas
o homem ao piano - Charles Bukowski
o homem ao piano
toca uma música
que ele não compôs
canta palavras
que não são suas
em um piano
que não é seu.
enquanto
as pessoas à mesa
comem, bebem e conversam
o homem ao piano
termina
sem aplausos.
então
começa a tocar
uma nova canção
que ele não escreveu
começa a cantar
palavras
que não são suas
em um piano
que não é seu.
e como as pessoas
à mesa
continuam a
comer, beber e conversar
quando
ele termina
sem ser aplaudido
ele anuncia
pelo microfone, que vai
fazer uma pausa
de dez minutos
ele vai
até o banheiro
masculino
entra
em um reservado
tranca a porta
senta
puxa um baseado
e acende
satisfeito
de não estar
ao piano
e as
pessoas às mesas
comendo, bebendo e conversando
satisfeitas
por ele também
não estar lá
assim
acontece
em quase toda parte
com todos e com tudo
enquanto ferozmente
no interior
o
gueto negro incendeia.
toca uma música
que ele não compôs
canta palavras
que não são suas
em um piano
que não é seu.
enquanto
as pessoas à mesa
comem, bebem e conversam
o homem ao piano
termina
sem aplausos.
então
começa a tocar
uma nova canção
que ele não escreveu
começa a cantar
palavras
que não são suas
em um piano
que não é seu.
e como as pessoas
à mesa
continuam a
comer, beber e conversar
quando
ele termina
sem ser aplaudido
ele anuncia
pelo microfone, que vai
fazer uma pausa
de dez minutos
ele vai
até o banheiro
masculino
entra
em um reservado
tranca a porta
senta
puxa um baseado
e acende
satisfeito
de não estar
ao piano
e as
pessoas às mesas
comendo, bebendo e conversando
satisfeitas
por ele também
não estar lá
assim
acontece
em quase toda parte
com todos e com tudo
enquanto ferozmente
no interior
o
gueto negro incendeia.
Citação Kerouac
"A
humanidade se assemelha aos cães, não aos deuses — se você não ficar
zangado eles vão lhe morder – mas fique bravo e você nunca será mordido.
Os cães não respeitam humildade e tristeza."
O Lamento de Zizi - Gregory Corso
Me apaixonei pela risonha morbidez
como seria bom para mim se pudesse possuí-la —
Eu já me vesti com as esplêndidas batas do Sudão,
carreguei as magnificentes halivas de Boudodin Bros...
beijei as Fatimas cantantes do cafetão de Aden,
escrevi salmos gloriosos no café do Hawhaliba,
mas nunca possuí a morbidez risonha,
então, que valor tenho eu?
O gordo mercador me oferece ópio, kief, haxixe,
ate mesmo Ieite de
camelo,
mas tudo é
insatisfatório –
Ó amarga noite condenada!! novamente você! deverei ainda
arrancar meus dentes irreais
desnudar minha pessoa irrisível
dar ao sono essa cabeça melancólica?
Nada sou sem a risonha morbidez.
Meu pai já a teve, meu avô a possuía;
Sem duvida meu Tio Fez a terá, mas eu, para mim
a quem eIa faria maior
bem,
será que um dia a terei?
Alô - Gregory Corso
É desastroso ser um cervo ferido.
Eu estou muito ferido, os lobos rondam
e tenhos meus fracassos também.
Minha carne ficou presa no Gancho Invevitável!
Quando criança vi todas as coisas nas quais não queria me
transformar.
Serei a pessoa que não desejava ser?
Aquela pessoa que-fala-sozinha?
Aquele de quem os vizinhos caçoam?
Serei eu aquele que, nos degraus do museu, dorme de lado?
Estarei usando a roupa do cara que falhou?
Sou um sujeito lunático?
Na grande serenata das coisas,
serei a
passagem mais cancelada?
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