domingo, 11 de setembro de 2011

Paranóia em Astrakan - Roberto Piva

Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
     onde anjos surdos percorrem as madrugas e tingindo seus olhos com
         lágrimas invulneráveis
     onde crianças católicas oferecem limões aos pequenos paquidermes
         que saem escondidos das tocas
     onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
          estéreis e incendeiam internatos
     onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
          a descarga sobre o mundo
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
     no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
     última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
     branco
onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
     escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorroidas das
     beatas
onde as cartas reclamam drinks de emergência para lindos tornozelos
     arranhados
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
    penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da
     imaginação

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