sábado, 28 de maio de 2011

A mulher mais linda da cidade

Das 5 irmãs, Cass era a mais moça e a mais bela. E a mais linda mulher da cidade. Mestiça de índia, de corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso como os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espírito impaciente para romper o molde incapaz de retê-lo. Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balançavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la. Para os homens, parecia apenas uma máquina de fazer sexo e pouco estavam ligando para a possibilidade de que fosse maluca. E passava a vida a dançar, a namorar e beijar. Mas, salvo raras exceções, na hora agá sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão.
As irmãs a acusavam de desperdiçar sua beleza, de falta de tino; só que Cass não era boba e sabia muito bem o que queria: pintava, dançava, cantava, dedicava-se a trabalhos de argila e, quando alguém se feria, na carne ou no espírito, a pena que sentia era uma coisa vinda do fundo da alma. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Quando seus namorados ficavam atraídos por ela, as irmãs se enciumavam e se enfureciam, achando que não sabia aproveitá-los como mereciam. Costumava mostrar-se boazinha com os feios e revoltava-se contra os considerados bonitos — “uns frouxos”, dizia, “sem graça nenhuma. Pensam que basta ter orelhinhas perfeitas e nariz bem modelado… Tudo por fora e nada por dentro…” Quando perdia a paciência, chegava às raias da loucura; tinha um gênio que alguns qualificavam de insanidade mental.

sábado, 21 de maio de 2011

Desordem - Los Porongas

A Desordem


Fazendo a guerra eu quis a paz
Compliquei demais
Amor demais, desordem, Amor
Eu me decidi você
Também como podia ser melhor
Quem é que fica bem, embora esteja muito só
Eu sempre invento alguém
Tento descobrir se existe um jeito
De não explodir querendo a paz
Eu tentei desativar
Eu tentei
Eu tentei desativar
Eu tentei
Tentei
Tentei
Eu ja nem sei o que eu faria pra me acostumar

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Revista Cult » Ser ou não ser

Muito bom este texto sobre a juventude. O que vocês pensam sobre este assunto? Revista Cult » Ser ou não ser

As Flores do Mal - Charles Baudelaire

A QUE ESTÁ SEMPRE ALEGRE 




Teu ar, teu gesto, tua fronte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.

A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade,
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.

As fulgurantes, vivas cores
De tua vestes indiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.

Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!

Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.

Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,

Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,

E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!

Citação Vagabundos Iluminados - Kerouac

"Mas eu tinha minhas próprias idéias e elas não tinham nada a ver com a parte "lunática" de tudo aquilo. Eu queria comprar um equipamento completo com tudo que é preciso para dormir, abrigar-se, comer, cozinhar, na verdade uma cozinha e um quarto completos bem nas minhas costas, e partir para algum lugar e encontrar a solidão perfeita e olhar para o perfeito vazio da minha mente e ser completamente neutro em relação a qualquer e toda idéia. Pretendo rezar, também, como minha única atividade, rezar por todas as criaturas vivas; percebi que essa era a única atividade decente que sobrara no mundo. Estar no leito de um rio em algum lugar, ou no deserto, ou nas montanhas, ou em alguma cabana do México ou em um barraco em Adirondack, e descansar e ser gentil, e não fazer nada além disso, praticar o que os chineses chamam de "não fazer nada"

sábado, 7 de maio de 2011

Melancolia - Charles Bukowski

Tradução de Alice Dias

a história da melancolia
inclui todos nós.
a mim, eu me contorço em sujos lençóis
enquanto observo as paredes azuis
e o nada.
acostumei-me tanto à melancolia
que
a cumprimento
como uma velha
amiga.
Ficarei de luto por 15 minutos

por ter perdido aquela ruiva,
digo isso aos deuses.
eu faço isso e me sinto completamente mal.
completamente triste,
então me levanto
LIMPO
embora nada tenha sido
resolvido.
é isso que consigo por chutar
a bunda da religião.
eu deveria ter chutado a bunda
da ruiva
onde seus miolos, seu pão
e sua manteiga estão
no…
Mas, não, eu tenho me sentido triste
por tudo isso:
ter perdido a ruiva foi, somente, outra
porrada que foi dada numa vida inteira
fracassada…
escuto os tambores no radio agora
e forço um sorriso.
além
da melancolia
há algo de errado comigo.

Achei Aqui: Literatura em Foco

Show Bizz - Charles Bukowski


Trad. Alice Dias
 
eu não posso ter isso
você não pode ter isso
e nós não
alcançaremos isso
então não aposte isso
e nem mesmo pense sobre
isso
levante-se da cama
toda manhã
lave-se
barbeie-se
vista-se
e saia
para fora disso
porque
fora disso
o que sobra
é loucura
e suicídio
então
não
espere o bastante
você não
deve nem mesmo
esperar
então o que você faz
é
trabalhar
a partir duma
base
mínima
como quando
voce sai
e durante o voltar
fica feliz pela
possibilidade
de seu carro
estar
no mesmo lugar
isso se os
pneus
não estiverem
carecas
aí você entra
e se conseguir dar a partida
você dá a partida.
e
isso é o filme mais imbecil
que voce já viu
porque
dele você
participa.
salário baixo
e
4 bilhões
de críticos
com a mais
longa estrada
que voce jamais
esperou
acerca
disso
um
dia.


Achei Aqui: Literatura em Foco Site com mais poemas do Buk

Alberto Caiero - O Guardador de Rebanhos XXXII

XXXII
Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos, uns com os outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.
(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com o florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber fazê-lo sem pensar nisso.)
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?


Alberto Caiero - O Guardador de Rebanhos

XXI
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento…
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural…
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva…
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e assim será...
   Assim é e assim seja…