terça-feira, 26 de abril de 2011

Citação Buk

"Sentia-me contente por não estar apaixonado, por não estar
contente com o mundo. Gosto de estar em desacordo com tudo. As pessoas apaixonadas tornam-se muitas vezes susceptíveis, perigosas. Perdem o sentido da realidade. Perdem o sentido de humor. Tornam-se nervosas,psicóticas, chatas. Tornam-se, mesmo, assassinas."

sábado, 23 de abril de 2011

Destino - Gregory Corso


Eles entregam os decretos de Deus
sem demora
E são isentos de apreensão
e detenção
E com seu Dons Divinos
Petaso, Caduceo e Talaria
rompem como raios de relâmpago
desimpedidos entre os tribunais
do espaço e do tempo

O Espírito-Mensageiro
no corpo humano
é assinalado firme
confiante, fecundo,
perfeita existência poética
ao longo de sua duração na vida

Não bate
ou toca a campanhia
ou telefona
Quando o Espírito-Mensageiro
vem até sua porta
mesmo fechada
ele vai entrar como uma parteira elétrica
e entregar a mensagem

Não há relatos
através das eras
de que um Espírito-Mensageiro
tenha alguma vez tropeçado na escuridão
Achei aqui: Furias de Orfeu

A BAGUNÇA TODA... QUEM SABE - Gregory Corso

A BAGUNÇA TODA... QUEM SABE

Subi seis lances de escada
até meu pequeno quarto mobiliado
abri a janela
e comecei a jogar fora
as tais coisas mais importantes na vida

Primeiro, a Verdade, ganindo como um dedo-duro:
“Não! Direi coisas terríveis de você!”
“Ah, é? Não tenho nada a esconder... FORA!”
Depois, Deus, assombrado, corado e choroso de espanto:
“Não é culpa minha! Não sou a causa de tudo isso!” “FORA!”
Depois o Amor, aliciando subornos: “Você não conhecerá a impotência!
As garotas da capa da Vogue, todas suas!”
Apertei sua bunda gorda e gritei:
“Seu destino é um desvalido!”
Peguei a Fé, a Esperança e a Caridade
as três juntas abraçadas:
“Você não vai sobreviver sem nós!”
“Estou pirando com vocês! Tchau!”

Depois a Beleza... Ah, a Beleza –
Tão logo a levei até a janela
disse: “Você eu amei mais na vida
... mas é uma assassina; a Beleza mata!”
Sem querer realmente atirá-la
desci correndo as escadas
chegando a tempo de apanhá-la
“Você me salvou!” sussurrou
Coloquei-a no chão e disse: “Anda.”

Subi de volta as escadas
procurei o dinheiro
não havia dinheiro pra jogar fora.
Só restava a Morte no quarto
escondida atrás da pia da cozinha:
“Não sou real!” gritou
“Não passo de um rumor espalhado pela vida...”
Atirei-a fora com a pia e tudo, sorrindo
e então notei que o Humor
era tudo que havia restado –
Tudo que pude fazer com o Humor foi dizer:
“A janela fora com a janela!”


traduções: Márcio Simões
 Achei aqui: Furias de Orfeu

Ontem a noite dirigi um carro - Gregory Corso

ONTEM À NOITE DIRIGI UM CARRO


Na noite andei de carro
sem ter meu carro próprio
sem jeito pra andar
corri e joguei longe
tribos que amo
... foi 120 em meio a um povo.


Parando em Hedgeville,
no assento de trás dormi
... no êxtase de uma vida nova.


Gregory Corso

Traduzido by Adriandos Delima

Achei aqui: Rimaevida

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Charles Bukowski - Trecho de "O Grande Casamento Zen-Budista"

" Fiquei casado dois anos e meio com a minha primeira mulher. Uma noite chegaram visitas. Eu disse pra ela: ‘Este aqui é o Louie, que meio-bobão, e esta é Marie, a Rainha da Chupada Relâmpago, e este aqui é Nick, que meio-rengo.’ Depois virei pra eles e disse: ‘Esta é minha mulher… a minha mulher… esta é a…’ Por fim tive que me virar pra ela e perguntar: ‘PORRA, COMO É MESMO TEU NOME?’”

Uma garota de lindas pernas - Charles Bukowski


Um Conto de Charles Bukowski Traduzido por: Mário Campos

A primeira vez que a vi foi num bar na rua Alvarado. Lisa era o nome. Na época eu tinha 24 anos e ela aparentava uns 35. Ela estava lá sentada no centro do bar e os dois bancos ao seu redor estavam vazios. Achei um tanto estranho não haver nenhum cara lhe penteando, tentando conseguir uma boa trepada.

Comparada com a maioria das mulheres que frequentavam  aquele antro, ela realmente bonita. Seu rosto era meio arredondado e seu cabelo aparentemente nada tinha de excepcional, mas havia uma espécie de quietude e paz no modo como se sentava. Algo confortante que só as pessoas em paz conseguem passar. Sentia também um pouco de tristeza e timidez no seu jeito de olhar.

sábado, 16 de abril de 2011

Lawrence Felinghetti

Lawrence Ferlinghetti, nasceu na cidade de Yonkers, Nova York, em 1919. Foi o precursor dos poetas beats americanos e seus poemas recebem influência de expoentes da poesia contemporânea do século XX, como e.e. cummings, T.S. Eliot, Ezra Pound e principalmente William Carlos Williams.

..1
Nas melhores cenas de Goya parece que vemos
....................................................as pessoas do mundo
........no exato momento em que
.......................pela primeira vez elas ganharam o título
..................................................de ‘humanidade sofredora’
........Tais pessoas se contorcem na página
................................................num verdadeiro acesso
..................................................................de adversidade
........Amontoadas
.......................gemendo com bebês e baionetas
........................................sob um céu de cimento
.......pela paisagem abstrata de árvores bombardeadas
....................estátuas decaídas asas bicos de morcegos
......................................................patíbulos escorregadios
........................................cadáveres galos carnívoros
.......monstros finais berrantes todos
........................da
.....................................‘imaginação do desastre’
.......tão danados de reais
................................... que até parece que ainda existem
.......E existem mesmo
...................... Só mudou a paisagem

Todos continuam em fila nas estradas que estão
.......infestadas de legionários
.......falsos moinhos de vento e grandes galos dementes

E são aquelas mesmas pessoas
.........................................apenas mais distantes de casa
.......e em estradonas de cinqüenta pistas
......................num continente de concreto
..................................demarcado por pencas de cartazes
.......que ilustram ilusões imbecis de felicidade
A cena mostra menos carretas para a forca.

trad. Leonardo Fróes
.10

.........Em toda a minha vida jamais deitei com a beleza
..........................confidenciando a mim mesmo
.........................................seus encantos exuberantes

Jamais deitei com a beleza em toda a minha vida
...........................................e tampouco menti junto a ela
..........................confidenciando a mim mesmo
....................................como a beleza jamais morre
..........................mas jaz afastada
....................................entre os aborígenes
......................................................................da arte
.....................e paira muito acima dos campos de batalha
......................................................................do amor

..........................Ela está acima disto tudo
...........................................oh sim
.........Está sentada no mais seleto dos
............................................................bancos do templo
lá onde os diretores de arte encontram-se
para escolher o que há de ficar eterno
..............................E eles sim deitaram-se com a beleza
....................suas vidas inteiras
......................................E deliciaram-se com a ambrosia
.........e sorveram os vinhos do Paraíso
............................................Portanto sabem com precisão
.........como algo belo é uma jóia
..........................rara rara
.........................................e como nunca nunca
.........poderá desvanecer-se
......................................num investimento sem tostão
Oh não jamais deitei
..........................em Regaços da Beleza como esses
.........receoso de levantar-me à noite
..........................com medo de perder de alguma forma
algum movimento que a beleza pudesse esboçar
...............

.........No entanto dormi com a beleza
..............................da minha própria e bizarra maneira
e aprontei uma ou duas cenas muito loucas
...................................... com a beleza em minha cama
e daí transbordou um poema ou dois
.........e daí transbordou um poema ou dois
..................... para esse mundo que parece o de Bosch



trad. Eduardo Bueno

..15
............Correndo risco constante
...........................................de absurdo e morte
............toda vez que atua em cima
...........................................das cabeças da audiência
o poeta sobe pela rima
............como um acrobata
.......................para a corda elevada que ele inventa
e equilibrado nos olhares acesos
..........................sobre um mar de rostos
.........abre em seus passos tIma via
..........................para o outro lado do dia
fazendo além de entrechats
...........................................truques variados com os pés
e gestos teatrais da pesada
...................................tudo sem jamais tomar uma
......coisa qualquer
..........................pelo que ela possa não ser
Pois ele é o super-realista
..........................que tem de forçosamente notar
.........a verdade tensa
............................antes de ensaiar um passo ou postura
no seu avanço pressuposto
.............................................para o poleiro ainda mais alto
onde com gravidade a Beleza
.............................espera para dar
..............................................seu salto mortal
E ele um pequeno
..........................homem chapliniano
...........................................que poderá ou não pegar
..........................aquela forma eterna e bela
...........................................projetada no ar
.........vazio da existência



trad. Leonardo Fróes

........25
Tocado
...........o coração logo se agita
............................e arqueja 'Amor'
...........um peixe alucinado que tenta
............................tirar seu fôlego da carne do ar
E não há ninguém ali para escutar sua morte
.........................................no meio das moitas tristes
..........................por onde o mundo passa em riste
..............................numa efusão de atrasos e de asfalto

trad. Leonardo Fróes

26
Aquela "fosforescência sensual
.............................na qual se deliciava minha juventude"
..........jaz agora quase atrás de mim
.....................................como uma região de sonhos
..........onde um anjo
......................................de hálito ardente
............dança como uma diva
......................................por veias estranhas
.............pelas quais o desejo
......................................perscruta e lamenta
E dança
......................................e dança ainda
e ainda avança
......................................para mim
.....................................................com seios ofegantes
....................e lábios secretos
.....................................e (ah)
......................................................olhos radiantes

trad. Eduardo Bueno
  Fonte: Cultura para

Bob Kaufman

Bob Kaufman (1925-1986) é considerado o maior poeta surrealista norte-americano. Seu encontro com membros do movimento beat se deu numa de suas viagens pela Marinha Mercante, quando Kaufman conheceu Jack Kerouac. Se a estrada foi “a musa” de Kerouac, o mar – as viagens marítimas – foi a de Kaufman. Sua obra se encontra em 4 livros: Solitudes crowded with loneliness, Golden Sardine, Ancient Rain e Cranial Guitar. Conhecido por ter usado o termo BEAT pela primeira vez. Seus poemas geralmente são em caixa alta por terem sido transcritos de suas leituras por amigos. 


A VIAGEM, VIAGEM DHARMA, VIAGEM SANGHA



É UMA TENTATIVA DELIBERADA

DE RECONSTRUIR UMA VIDA,

PARECE ESTAR DEMOLIDA

COMO UMA VELHA CONSTRUÇÃO

ONDE NINGUÉM QUER VIVER

EMBORA ESTEJA DE PÉ CHEIA DE ESPERANÇA.

ALGO A MAIS DO QUE MEMÓRIA

É PRECISO,

PALAVRAS NÃO SÃO UMA SOLUÇÃO,

ÀS VEZES SÃO UM PROBLEMA,

MAS O CUME DEVE SER ALCANÇADO,



A ESTRADA VAI APENAS ATÉ O TOPO DA MONTANHA,

PARECE NÃO HAVER MAIS NENHUM LUGAR PARA IR

A VIDA NUM TOPO DE MONTANHA

COM CÉU EM TODO REDOR,

A VISTA DE TUDO SE ESPALHANDO

DIANTE DOS OLHOS,

SUBSTITUINDO PALAVRAS POR IMAGENS.


Fonte: Revista Zunái

sábado, 9 de abril de 2011

Embriaguem-se


Charles Baudelaire


É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

Born Into This - Video

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Born Into This

Nascido dentro disso - Charles Bukowski

nascido como isso
dentro disso
enquanto faces de giz sorriem
enquanto a Sra. Morte gargalha
enquanto as paisagens políticas se dissolvem
enquanto o garoto das sacolas no supermercado segura um diploma universitário
enquanto o peixe oleoso cospe fora suas presas oleosas
enquanto o sol se esconde

nós nascemos como isso
dentro disso
dentro de guerras cuidadosamente insanas
dentro da visão das janelas quebradas da fábrica do vazio
dentro de bares onde as pessoas não mais conversam umas com as outras
dentro de brigas de punhos que terminam em tiros e facadas

nascido dentro disso
dentro de hospitais que são tão caros que é mais barato morrer
dentro advogados tão caros que é que é mais barato alegar culpa
dentro de um país onde as cadeias estão cheias e os hospícios estão fechados
dentro de um lugar em que as massas elevam idiotas à condição de heróis ricos

nascido dentro disso
andando e vivendo através disso
morrendo por causa disso
emudecido por causa disso
castrado
escarnecido
deserdado
por causa disso
enganado por isso
usado por isso
mijado por isso
feito louco e doente por isso
feito violento
feito desumano
por isso

o coração está enegrecido
os dedos buscam a garganta
a arma
a faca
a bomba
os dedos se estendem a um deus que não responde

os dedos buscam a garrafa
a pílula
o pó

nascemos dentro dessa pesarosa mortalidade
nascemos dentro de um governo há 60 anos em débito
em breve será impossível pagar até os juros da dívida
e os bancos queimarão
o dinheiro será inútil
haverá assassinato gratuito e impune nas ruas
pistolas e máfias nômades
a terra será inútil
a comida se tornará um retorno escasso
o poder nuclear será dominado por muitos
explosões constantes estremecerão a terra
homens robôs radioativos caçarão uns aos outros
os ricos e os escolhidos assistirão a tudo de plataformas espaciais
o inferno de Dante vai se parecer com um jardim de infância

o sol não será visto e será sempre noite
as árvores morrerão
toda a vegetação morrerá
homens radioativos comerão a carne de homens radioativos
o mar será envenenado
rios e lagos desvanecerão
a chuva será o novo ouro

a carne apodrecida de homens e animais vai feder no vento sombrio
os raros sobreviventes serão dizimados por novas e hediondas enfermidades

e as plataformas espaciais serão destruídas pelo desgaste
a exaustão de suprimentos
efeito natural da decadência geral

e existirá o mais belo silêncio já ouvido
nascido de tudo isso

o sol ainda oculto
apenas esperando o próximo capítulo.

Tradução: David Aragão



Fonte: Blog do Prof. Evaldo e Amigos - Born Into This - Charles Bukowski (Tradução)