domingo, 4 de setembro de 2011

O Último alento de Arnold - Gregory Corso


Arnold, acalentado por Deus, 
escondido sob a varanda 
relembrando o tempo em que fugiu, aprisionado em 
         Vermont, 
abrindo um caminho na neve. Arnold era de outro lugar, 
onde não era tão frio; lá ele usava sapatos camurça 
e jogava tênis de mesa.
Arnold sabia o Corão.
E ele saia cantar:
          O jovem Julien Sorel
          Recitava bem o latim
          E era inteligente assim
            Como ele era um jasmim
          Até que sua cabeça caiu.

Na atmosfera vazia
Arnold tinha um trinca de pombos, um pacote milho.
Pensava em Eleanor, em suas mãos;
Observava ela sentada quieta na escola
Ele tinha Carmine para atraí-la para uma atmosfera mais cálida;
Queria beijá-la, viver com ela para sempre;
Abrir-lhe a cabeça com propostas mirabolantes.

Quem é Arnold? Bem,
Quando o encontrei a primeira vez usava um gorro preto 
coberto de broches antigos. Estava com 13 anos.
E com medo. Mas sorria. Ele estava sempre 
querendo te acompanhar no caminho de casa, falar com tua mãe, 
conversar com ela sobre o Parque da rua Hester 
sobre os vagabundos gélidos de lá; 
sobre as velhas judias gélidas sentadas, 
com as mãos dobradas, tristes, virando o rosto 
para longe do antigo lar dos judeus.
Arnold cresceu conhecendo bem os agentes de turfe 
e os depenadores de frangos

E Arnold sabia cantar:
          Agora morreu, aos meus 15 anos
          Delano Roosevelt, com seu rosto sorridente
          Tornou mais diabólico o Imperialista com dentadura de dólar,
          O Ariano de bigodes,
          O César queixudo –
          Agora morreu, e eu chorei...
          Porque esse homem uma vez eu odiei 
          sem razão nenhuma 
          só ódio inocente 
          – meu gorro coberto com broches antigos.

Arnold levou um chute no saco 
de uma garota italiana que enlouqueceu 
por causa de uma grande greve de mineiros 
que forçou a Aliança Educacional a fechar as portas.
Arnold, fraco e caído, roubou uns centavos de uma biblioteca, 
mas aproveitou para ler Paderewski.
Ele costumava andar pela Rua Sul 
a refletir sobre os diversos tipos de cola.
Era em cola de avião que ele pensava 
quando caiu e morreu sob a Ponte do Brooklyn.    

Poemas do livro:  Gasolyna
Tradução: Ciro Barroso

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