I-
"Ó FORTUNA"
Ó
Fortuna,
tal
a lua,
uma
forma variável!
Sempre
enchendo
ou
encolhendo:
ó
que vida execrável!
Pouco
duras,
quando
curas
de
nossa mente as mazelas
a
pobreza,
a
riqueza, tu derretes ou congelas.
Bruta
sorte,
és
de morte:
tua
roda é volúvel,
benfazeja,
malfazeja,
toda
sorte é dissolúvel.
Disfarçada
de
boa fada,
minha
ruína sempre queres;
simulando
estar
brincando,
minhas
costas nuas feres.
Gozar
saúde,
mostrar
virtude:
isto
escapa minha sina;
opulento
ou
pulguento
o
azar me arruína.
Chegou
a hora,
convém
agora,
o
alaúde dedilhar;
a
pouca sorte
do
homem forte
devemos
todos lamentar." (CB no. 17)
II-
"UMA JOVEM PASTORA"
Uma
jovem pastora,
logo
ao sol nascer,
levava
seu rebanho
e
lã para tecer.
Seu
rebanho inclui
carneiro
e jumentinha
cabrito
e cabrita
bezerro
e bezerrinha.
Ela
viu na relva,
sentado
um estudante:
"Senhor,
que faz aqui ?
Brinquemos
um instante!" (CB no. 90)
III-
"AI DE MIM, QUE MEDO"
Ai
de mim, que medo,
furaram
meu segredo:
amava
loucamente.
Revela
o ocorrido
meu
ventre entumescido;
o
parto é iminente.
Mamãe
me fustiga,
papai
me castiga,
só
fazem me xingar.
Fico
em casa trancada,
não
piso na calçada,
não
posso mais brincar.
Se
eu na rua andar,
todos
vão me olhar:
"Um
monstro a passar!"
Vêem
com mesquinhez
minha
gravidez
e
passam sem falar.
Cotovelos
se afrontam,
dedos
sujos me apontam
como
malfeitora.
Olhares
me incriminam,
à
fogueira me destinam,
a
grande pecadora.
É
o fim da picada:
ser
a moça mais falada
desta
freguesia!
Dores
sem fim padeço,
aflita,
desfaleço,
choro
de agonia.
E
tudo agravou-se,
meu
noivo exilou-se,
para
longe daqui.
Ante
a paterna vingança,
exilou-se
na França
tão
distante de mim.
Ele
estando ausente
receio
que não agüente
esta
dor sem fim. " (CB no. 126)
IV-"
SE UM RAPAZ E UMA DONZELA"
Se
um rapaz e uma donzela,
ficassem
juntos na mesma cela...
R.
Ó casal abençoado!
O amor tempera,
anima o noivado;
o tédio se oblitera.
Brincam
juntos num só gesto
de
bocas, pernas e o resto!
R.
Ó casal abençoado... (CB no. 183)
V-
"AH, SE EU PUDESSE COMPRAR"
Ah,
se eu pudesse comprar
o
mundo, do Reno até o mar.
Tudo
isto me pode faltar:
basta
a rainha da Inglaterra
em
meus braços se deitar." (CB no. 145)
VI-
'QUANDO NA TABERNA ESTAMOS"
Quando
na taberna estamos,
falar
da morte evitamos,
jogar,
isto nos conforta,
o
dado é que importa.
Quem
paga o pato na taberna ?
Qual
a lei que nos governa?
Tais
perguntas em tua cabeça
permita-me
que esclareça.
Se
não bebem, jogam dados,
ou
cometem outros pecados.
Vários
devem, ao jogar,
sua
roupa empenhar:
ficarão
bem trajados
ou
com trapos camuflados,
ninguém
aqui teme a morte,
todos,
bebendo, tentam a sorte.
Brindam
logo a quem paga
com
o vinho que se traga,
duas
vezes os prisioneiros,
três
vezes nossos herdeiros,
quatro
vezes os batizados,
cinco
vezes nossos finados,
seis,
todas as mães solteiras,
sete,
os guardas das fronteiras.
Oito,
os confrades meliantes,
nove,
os monges caminhantes,
dez,
os nossos navegantes,
onze
vezes os discordantes,
doze
vezes os flagelantes,
treze
vezes os viandantes.
Por
fim, ao Papa, e ao Rei
brindam
nossos fora-da-lei.
Bebe
a dona, bebe o senhor,
bebe
o cabo e o monsenhor,
bebe
o dono, bebe a dama,
bebe
o servo, bebe a ama,
o
apressado e o tardo,
bebe
o branco, bebe o pardo,
o
burguês com o vago
o
camponês com o mago.
Bebe
o pobre, bebe o doente,
o
marginal, o indigente,
o
moço e o veterano,
bebe
o abade com o decano,
bebe
o irmão, bebe a irmã,
bebe
o velho, bebe a anciã,
bebe
o nobre, bebe o vil
bebem
cem e bebem mil.
Com
seis ducados não pagamos
todo
vinho que tragamos
bebendo
todos à porfia.
Mas
ao beber na alegria,
falsos
irmãos de nós judiam
sempre
nos vilipendiam.
Quem
nos inveja, seja maldito,
no
livro dos justo não fique inscrito." (CB no. 196)
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