domingo, 11 de setembro de 2011

Poesias Carmina Burana - Goliardo


 I- "Ó FORTUNA"
Ó Fortuna,
tal a lua,
uma forma variável!
Sempre enchendo
ou encolhendo:
ó que vida execrável!
Pouco duras,
quando curas
de nossa mente as mazelas
a pobreza,
a riqueza, tu derretes ou congelas.
 
Bruta sorte,
és de morte:        
tua roda é volúvel,         
benfazeja,    
malfazeja,
toda sorte é dissolúvel.
Disfarçada
de boa fada,
minha ruína sempre queres;
simulando
estar brincando,
minhas costas nuas feres.
 
Gozar saúde,
mostrar virtude:
isto escapa minha sina;
opulento
ou pulguento
o azar me arruína.
Chegou a hora,
convém agora,
o alaúde dedilhar;
a pouca sorte
do homem forte
devemos todos lamentar." (CB no. 17)


II- "UMA JOVEM PASTORA"
Uma jovem pastora,
logo ao sol nascer,
levava seu rebanho
e lã para tecer.
 
Seu rebanho inclui
carneiro e jumentinha
cabrito e cabrita
bezerro e bezerrinha.
 
Ela viu na relva,
sentado um estudante:
"Senhor, que faz aqui ?
Brinquemos um instante!" (CB no. 90)

III- "AI DE MIM, QUE MEDO"
Ai de mim, que medo,
furaram meu segredo:
amava loucamente.
 
Revela o ocorrido
meu ventre entumescido;
o parto é iminente.
 
Mamãe me fustiga,
papai me castiga,
só fazem me xingar.
 
Fico em casa trancada,
não piso na calçada,
não posso mais brincar.
 
Se eu na rua andar,
todos vão me olhar:
"Um monstro a passar!"
 
Vêem com mesquinhez
minha gravidez
e passam sem falar.
 
Cotovelos se afrontam,
dedos sujos me apontam
como malfeitora.
 
Olhares me incriminam,  
 à fogueira me destinam,
a grande pecadora.         
É o fim da picada:
ser a moça mais falada
desta freguesia!
 
Dores sem fim padeço,
aflita, desfaleço,
choro de agonia.
E tudo agravou-se,
meu noivo exilou-se,
para longe daqui.
Ante a paterna vingança,
exilou-se na França
tão distante de mim.
Ele estando ausente
receio que não agüente
esta dor sem fim. " (CB  no. 126)


IV-" SE UM RAPAZ E UMA DONZELA"
Se um rapaz e uma donzela,
ficassem juntos na mesma cela...
R. Ó casal abençoado!
   O amor tempera,
   anima o noivado;
   o tédio se oblitera.
 
Brincam juntos num só gesto
de bocas, pernas e o resto!
R. Ó casal abençoado... (CB no. 183)

V- "AH, SE EU PUDESSE COMPRAR"
Ah, se eu pudesse comprar
o mundo, do Reno até o mar.
Tudo isto me pode faltar:
basta a rainha da Inglaterra
em meus braços se deitar." (CB no. 145)

VI- 'QUANDO NA TABERNA ESTAMOS"
Quando na taberna estamos,
falar da morte evitamos,
jogar, isto nos conforta,
o dado é que importa.
Quem paga o pato na taberna ?
Qual a lei que nos governa?  
Tais perguntas em tua cabeça
permita-me que esclareça.
 
Se não bebem, jogam dados,
ou cometem outros pecados.
Vários devem, ao jogar,
sua roupa empenhar:
ficarão bem trajados
ou com trapos camuflados,
ninguém aqui teme a morte,
todos, bebendo, tentam a sorte.
 
Brindam logo a quem paga
com o vinho que se traga,
duas vezes os prisioneiros,
três vezes nossos herdeiros,
quatro vezes os batizados,
cinco vezes nossos finados,
seis, todas as mães solteiras,
sete, os guardas das fronteiras.
 
Oito, os confrades meliantes,
nove, os monges caminhantes,
dez, os nossos navegantes,
onze vezes os discordantes,
doze vezes os flagelantes,
treze vezes os viandantes.
Por fim, ao Papa, e ao Rei
brindam nossos fora-da-lei.
 
Bebe a dona, bebe o senhor,
bebe o cabo e o monsenhor,
bebe o dono, bebe a dama,
bebe o servo, bebe a ama,
o apressado e o tardo,
bebe o branco, bebe o pardo,
o burguês com o vago
o camponês com o mago.
 
Bebe o pobre, bebe o doente,
o marginal, o indigente,
o moço e o veterano,         
bebe o abade com o decano,
bebe o irmão, bebe a irmã,
bebe o velho, bebe a anciã,
bebe o nobre, bebe o vil
bebem cem e bebem mil.
 
Com seis ducados não pagamos
todo vinho que tragamos
bebendo todos à porfia.
Mas ao beber na alegria,
falsos irmãos de nós judiam
sempre nos vilipendiam.
Quem nos inveja, seja maldito,
no livro dos justo não fique inscrito." (CB no. 196)

 
 
fonte e onde podem ser encontradas mais informações sobre Carmina Burana

Nenhum comentário: