a fábrica longe da Av. Santa Fé era
melhor.
empacotávamos suporte de luminárias
pesados em caixas longas
e depois jogávamos as caixas em pilhas
de seis.
aí os carregadores
vinham
esvaziar sua mesa e
você começava as seis seguintes.
jornada de dez horas
quatro no sábado
pagamento pelo sindicato
bom demais para trabalho não especializado
e se você não chegava lá
com músculos
logo, logo ia arranjá-los
a maioria de nós em
camisetas brancas e jeans
cigarro no bico
cerveja furtiva
a gerência olhando
pro outro lado
poucos brancos
os brancos não demoravam
trabalhadores preguiçosos
na maioria mexicanos e
pretos
frios e rancorosos
brilhava uma faca
ou alguém
era ferido
a gerência olhando
pro outro lado
os raros brancos que ficavam
eram loucos
trabalhava-se
e as jovens mexicanas
nos mantinham
acesos e esperançosos
seus olhos piscando
mensagens
de lá da
linha de montagem.
eu era um dos
brancos loucos
que duraram
eu era um bom trabalhador
só pelo ritmo da coisa
pelo diabo da coisa
e depois de dez horas
de trabalho duro
depois de trocar insultos
vivendo entre atritos
com os que não suficientemente calmos
para se conformar
saíamos
ainda dispostos
subíamos em nosso velhos
carros para
voltar para casa
beber metade da noite
brigar com nossa mulheres
para recomeçar no dia seguinte
a embalar os suportes
sabendo que éramos
uns babacas
fazendo os ricos mais ricos
enfiávamos
nossa camiseta branca
e o jeans
e deslizámos
entre jovens mexicanas
éramos simples e prefeitos
para o que fazíamos
ressaca
podíamos
fazer bem pra burro
nosso trabalho
mas isso
não nos tocou
nunca
entre aquelas paredes despelando
o barulho das brocas
e serras
as faíscas
éramos uma turma boa
naquele balé brutal
éramos maravilhosos
dávamos a eles
muito mais do que pediam
e ainda assim
a eles não dávamos
nada.
Fonte: Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski, tradução Jorge Wanderley
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