sábado, 23 de julho de 2011

a última - W. S. Merwin



Eles decidiram estar por toda parte. Por que não?
Todos os lugares eram deles porque sim.
Eles tinham mãos de lâminas e tinham o desprezo dos pássaros.
No caminho que fica entre as pedras, decidiram.
E então começaram a derrubar.

E eles cortaram tudo. Por que não?
Todas as coisas eram deles porque era assim que eles pensavam.
Ela caiu em suas próprias sombras e eles a levaram.
Alguma coisa para ter, alguma coisa para guardar.

Cortando tudo eles chegaram até a água.
E quando o dia acabou ainda restava uma de pé.
Eles foram embora e deixaram para derrubá-la no dia seguinte.
A noite aninhou-se nos seus últimos galhos.
A sombra da noite juntou-se à sombra sobre a água.
A noite e a sombra formaram uma só cabeça.
E a que restava decidiu que ficaria.

Pela manhã eles cortaram a que restava.
Como as outras a última caiu em sua própria sombra.
Em sua própria sombra sobre a água.
Eles a carregaram a sombra permaneceu na água.

Eles encolheram os ombros e começaram a tentar demover a sombra.
Cortaram até o nível do chão a sombra continuou intacta.
Cobriram a sombra com tábuas ela apareceu por cima.
Iluminaram a sombra ela ficou mais escura mais brilhante.
Explodiram a água a sombra balançou.
Decidiram fazer uma enorme fogueira com raízes.
Uma fumaça negra subiu entre a sombra e o sol.
A nova sombra se espalhou sem alterar a antiga.
Eles encolheram os ombros foram buscar pedras.

Voltaram e viram que a sombra estava crescendo.
Atiraram pedras sobre ela e ela continuou crescendo.
Enquanto olhavam para os lados, ela continuava crescendo.
Decidiram transformar tudo aquilo em pedra.
Trouxeram mais pedras e as jogaram sobre a sombra.
A sombra se sobrepunha sem fim e continuava crescendo.
Isto foi um dia.

Na manhã seguinte aconteceu o mesmo ela continuava crescendo.
Eles tudo fizeram tudo permaneceu igual.
Resolveram retirar a água debaixo da sombra.
Retiraram e a água baixou de nível.
A sombra continuou no mesmo lugar de antes.
Continuou crescendo e se espalhou pela terra.
Eles começaram a raspar a sombra com máquinas.
As máquinas tocavam nela ela penetrava nas máquinas.
Eles começaram a tratar a sombra a porradas.
Quando os paus atingiram a sombra ela penetrava neles.
Eles começaram a bater na sombra com os punhos.
Quando os punhos batiam na sombra ela penetrava neles.
Isso foi no outro dia.

No dia seguinte eles começaram tudo de novo ela continuou crescendo.
Acenderam luzes contra a sombra.
Por onde a sombra passava as luzes se apagavam.
Começaram a pisar na margem da sombra e ela agarrou seus pés.
E quando a sombra agarrou seus pés eles caíram.
E quando ela alcançou seus olhos eles ficaram cegos.
A sombra cresceu sobre os que caíram e eles sumiram.
Os que podiam enxergar ficaram parados.
Os que ficaram cegos e entraram nela sumiram
suas sombras foram engolidas.
Depois seus corpos foram engolidos.
Então os outros fugiram.
Os sobreviventes saíram pelo mundo e viveriam se a sombra lhes permitisse.
Foram o mais longe possível.
Os que tinham mais sorte levando suas sombras.

Livro: Quingumbo - A nova poesia norte americana
|Tradução: Nei Leandro de Castro

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