HAI
Eis que nasce completo
e, ao morrer, morre germe,
o desejo, analfabeto,
de saber como reger-me,
ah, saber como me ajeito
para que eu seja quem fui,
eis o que nasce perfeito
e, ao crescer, diminui.
KAI
Mínimo templo
para um deus pequeno,
aqui vos guarda,
em vez da dor que peno,
meu extremo anjo de vanguarda.
De que máscara
se gaba sua lástima,
de que vaga
se vangloria sua história,
saiba quem saiba.
A mim me basta
a sombra que se deixa,
o corpo que se afasta.
[do livro Distraídos Venceremos]
sábado, 21 de novembro de 2009
O Nada
Cidadão Instigado
Composição: Fernando Catatau
abram as portas das suas casa
deixem os ladrões entrarem
eles vão levar tudo que puderem
e você vai ficar cansado
e também muito triste
e vai caminhar por aí
pensando em seus próprios passos
flutuantes
com aquela vontade de sumir
progressivamente
e você se vai...vai
e você se vai...vai
desaparecendo aos poucos
e depois voltando à realidade
e o nada
daí,quando você tiver a certeza de que não possui mais nada
e que até a sua própria dor não lhe pertence mais
talvez
em algum momento
você se livre desses pensamentos
e se sinta
começando
renascendo
solitário
tendo em vista
um novo momento
então...
abram as portas das suas casas
deixem os ladrões entrarem
eles vão levar tudo que puderem...
deixem os ladrões entrarem
eles vão levar tudo que puderem
e você vai ficar cansado
e também muito triste
e vai caminhar por aí
pensando em seus próprios passos
flutuantes
com aquela vontade de sumir
progressivamente
e você se vai...vai
e você se vai...vai
desaparecendo aos poucos
e depois voltando à realidade
e o nada
daí,quando você tiver a certeza de que não possui mais nada
e que até a sua própria dor não lhe pertence mais
talvez
em algum momento
você se livre desses pensamentos
e se sinta
começando
renascendo
solitário
tendo em vista
um novo momento
então...
abram as portas das suas casas
deixem os ladrões entrarem
eles vão levar tudo que puderem...
Certas Coisas - Bukowski
certas coisas que nós suportamos
não nos dizem respeito,
e nós lidamos com elas
devido ao tédio ou ao medo ou ao dinheiro
ou à pouca inteligência;
a nossa vontade e a nossa esperança
cada vez mais pequenas,
tão pequenas que nem as suportamos,
nós agarramo-nos ao Ideal
mas perdemos o Rumo:
muita parra e pouca uva,
e vemos nomes que antes significavam sabedoria,
como sinais em cidades fantasma,
onde só as campas são reais.
versão de manuel a. domingos às 12:53
não nos dizem respeito,
e nós lidamos com elas
devido ao tédio ou ao medo ou ao dinheiro
ou à pouca inteligência;
a nossa vontade e a nossa esperança
cada vez mais pequenas,
tão pequenas que nem as suportamos,
nós agarramo-nos ao Ideal
mas perdemos o Rumo:
muita parra e pouca uva,
e vemos nomes que antes significavam sabedoria,
como sinais em cidades fantasma,
onde só as campas são reais.
versão de manuel a. domingos às 12:53
sábado, 7 de novembro de 2009
Citações William Burroughs
"Depois de uma olhada neste planeta, qualquer visitante do espaço exterior diria''Eu quero ver o gerente.''"
"Como todas as criaturas puras, os gatos são práticos".
"Como todas as criaturas puras, os gatos são práticos".
"Seu conhecimento do que está acontecendo só pode ser superficial e relativa."
"Em profunda tristeza, não há lugar para sentimentalismos."
"A virtude é simplesmente a felicidade e a felicidade é um subproduto da função. Você é feliz quando está funcionando ".
olá, como está? - Charles Bukowski
olá, como está?
este medo de ser o que eles são:
mortos.
ao menos não andam na rua, eles
têm o cuidado de ficar em casa, esses
seres pálidos que se sentam em frente à televisão,
as suas vidas cheias de risos enlatados, mutilados.
o seu bairro perfeito
de carros estacionados
de pequenos jardins
de pequenas casas
de pequenas portas que abrem e fecham
enquanto os familiares os visitam
durante as férias
as portas que se fecham
atrás dos mortos que morrem devagar
atrás dos mortos que ainda vivem
no teu normal e pacato bairro
de ruas largas
de agonia
de confusão
de horror
de medo
de ignorância.
um cão atrás de uma cerca.
um homem em silêncio numa janela.
versão de manuel a. domingos às 20:53
este medo de ser o que eles são:
mortos.
ao menos não andam na rua, eles
têm o cuidado de ficar em casa, esses
seres pálidos que se sentam em frente à televisão,
as suas vidas cheias de risos enlatados, mutilados.
o seu bairro perfeito
de carros estacionados
de pequenos jardins
de pequenas casas
de pequenas portas que abrem e fecham
enquanto os familiares os visitam
durante as férias
as portas que se fecham
atrás dos mortos que morrem devagar
atrás dos mortos que ainda vivem
no teu normal e pacato bairro
de ruas largas
de agonia
de confusão
de horror
de medo
de ignorância.
um cão atrás de uma cerca.
um homem em silêncio numa janela.
versão de manuel a. domingos às 20:53
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Dez Chamamentos Ao Amigo
de Hilda Hilst
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
(I)
[Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]
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